A Náusea
Se você não leu esse livro e gosta do assunto te aconselho primeiro a lê-lo e depois voltar aqui, além de pesquisar mais sobre o assunto (porque vale muito a pena).
Irei falar um pouco sobre a Náusea propriamente dita, não sobre o livro em si.
Se você já teve enjoou ou tontura com certeza saberá o que é náusea, porém não é deste tipo de náusea que irei abordar. O que irei falar vai muito além das disfunções orgânicas.
A Náusea é o Absurdo do Mundo entrando nos seus pulmões e diluindo toda a realidade, que você acha que conhece, no Nada da sua existência. Aquela mesma realidade que você jura ser concreta e imutável.
Apresentada a Náusea da qual estou falando posso explicá-la (pelo menos tentar). O Absurdo do mundo configura que no futuro TUDO pode acontecer e sendo assim essa grande totalidade é um grande NADA. O passado já foi, ele não existe mais, você já seria irreconhecível aos olhos do seu eu de hoje, já que não somos um ser fechado em si mesmo - um ser-em-si - mas um ser-para-si que está num eterno vir-a-ser. Sendo assim voltamos (se é que saímos) para o NADA. O Ser do presente (você mesmo) se encontra em uma corda bambá entre o Nada e o Nada. Você já não pode se reconhecer no passado e nem se ver no futuro. Então o que te restou também foi o NADA. O Absurdo da vida é traduzido por Sartre como uma contingência existencial. Agora seja bem vindo ao Absurdo do Mundo.
A Náusea é o reconhecimento deste Absurdo. O ser perde o contorno e brilho dos objetos e das pessoas (quase que uma redução fenomenológica espontânea), ele passa a experiênciar o mundo quase como se fosse pela primeira vez. O conteúdo significativo das coisas do mundo e suas evidências apodíticas são diluídas, revelando a crua realidade (quase crua). Experienciada na consciência podemos senti-la agindo com toda a sua força nos enjoando sem controle.
Assim como a náusea ocasionada por disfunções orgânicas, a Náusea de Sartre também lhe trará vertigem, tornará o ambiente nebuloso e confuso. O que lhe resta é apreciar a Náusea, aproveitar o momento e utilizar da sua condenação de escolher - vulgo liberdade - para se reinventar com autenticidade, assim criando novos significados e consequentemente novas experiências.
É completamente louvável utilizar de ajudas provindas deste mundo caótico, como psicólogos, amigos/família (só tome cuidado com estes) e na filosofia.
Nietzsche não fala propriamente do Absurdo e da Náusea, mas fala sobre o Nada e a sua relação com o Ser. Como podemos ver em sua famosa frase:
“Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E, se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você.”
Em uma análise Existencialista podemos ver que quando o Ser olha e aprecia esse Abismo referente ao Nada de sua existência, isso acaba voltando para ele, assim enchendo seus pulmões com o puro Absurdo. E por fim a Náusea Sartreana toma conta do homem.
Você agora pode se perguntar "Então já que Nietzsche é o filósofo pessimista ele vai dizer que temos que sofrer calado e engolir a Náusea?" E eu te respondo com um grande NÃO! Primeiro, se você acha que a filosofia de Nietzsche é pessimista te aconselho a ler tudo de novo. Segundo, quem ficaria parado seria um fraco (não fui eu que disse isso), devemos agir e com força.
Nietzsche propõe que devemos olhar para a vida de forma estética. Apreciando o Nada, e consigo a Náusea.
Nunca confunda apreciar a vida com colocar uma máscara da felicidade nos momentos ruins, você vai sim sofrer e arder em dor. Porém apreciar significa fazer igual um degustador aprecia seu vinho, dizendo suas notas e sabores (isso não quer dizer que o degustador está gostando do vinho), isso vai muito além de só ficar sofrendo. Assim podemos perceber as nuances da situação e agir com as próprias mãos. Voltando a utilizar a sua liberdade para se reinventar com criatividade. Construindo seus próprios significados e sua própria moral. Destruindo as antigas e enraizadas para criar novas!
Enfim... é isso. Se você ficou com dúvidas ou quiser acrescentar algo pode entrar em contato comigo pelo Instagram (link a baixo) ou pelos comentários. Caso você ache que a minha leitura de Nietzsche está equivocada podemos conversar sobre isso também, até porque fazer essa aproximação de filósofos e filosofia não é uma tarefa muito simples.
Vou deixar link para: uma resenha da "A Náusea", feita pela autora Tamy Ghannam; um periódico da UFMG sobre o Absurdo e a contingência em Sartre e Camus feito por Fabrício Caxito e um artigo com o título de "Hölderlin e Nietzsche: sobre o “abismo” do nada", que fala justamente da questão estética e artística em relação ao Nada em Nietzsche e Hölderlin, feito por Clademir Araldi. Além de um link para acessarem o próprio livro citado aqui e um livro base para quem se interessa por Existencialismo e Fenomenologia.
- A Náusea (Jean-Paul Sartre): https://lelivros.love/book/baixar-livro-a-nausea-jean-paul-sartre-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/
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